Não é de se estranhar quando uma palavra, normalmente de origem inglesa, se espalhe no âmbito organizacional e torne parte da rotina. Um exemplo disso é a palavra “case” que se remete a um estudo de caso, quando traduzimos para o português.
Para além dos cases, no contexto do trabalho, duas palavras ganharam bastante destaque: Soft Skills e Hard Skills. Para entendê-las, é necessário recorrermos, inicialmente, aos conceitos de competências e habilidades.
Os termos Habilidades e Competências são sinônimos?
No senso comum, competência está relacionada a tudo o que a pessoa sabe fazer, por isso, é recorrente as pessoas considerarem habilidades e competências com o mesmo sentido. Mas, quando analisamos o termo competênciasno ambiente organizacional, é necessário ter o olhar para os três elementos que o envolvem: Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA).
O CHA foi um conceito proposto desde 1996 e vem sido aceito como uma das definições de competência. Perante esse conceito, as competências de uma pessoa são compostas por estes três pilares essenciais:
- Conhecimentos – saber. Remetem ao conjunto de saberes teóricos, sendo então a informação e entendimento sobre algo, o que fazer e por que fazer determinada ação. Engloba escolaridade, conhecimentos técnicos, cursos gerais e especializações;
- Habilidades – saber fazer. Regem a prática e a ação em si. São as técnicas e o saber fazer, aplicando o conhecimento adquirido para a execução de tarefas e solução de problemas;
- Atitudes – saber fazer acontecer. São os interesses e determinações de um indivíduo para fazer algo ou assumir determinado comportamento, sendo então os desejos e intenção ao querer fazer algo.
Em resumo, competência é o que foi feito com os conhecimentos e habilidades aplicadas para a obtenção de bons ou excelentes resultados.
Analisemos o seguinte exemplo:
Na empresa Y, houve-se casos de funcionários que deixaram suas emoções tomarem conta do ambiente de forma extremamente negativa, prejudicando assim a convivência com equipe, pares e superiores. Analisando a situação, a empresa Y resolveu investir em um treinamento sobre Inteligência Emocional para os colaboradores a fim de evitar novos casos negativos e prepará-los para conseguirem lidar melhor com suas emoções. Eric, funcionário da empresa Y, participou ativamente desse treinamento, atentando-se às discussões, temáticas e métodos de autocontrole. A partir disso, o rapaz começou a implementar no seu cotidiano os métodos aprendidos durante o treinamento, utilizando-os para lidar com os outros funcionários.
Posto esse exemplo, é possível observar que Eric desenvolveu o CHA e, consequentemente, a competência de Inteligência Emocional, a partir dos três pilares:
• Devido ao treinamento que realizou e às próprias experiências, foi possível desenvolver o conhecimento da personagem acerca da Inteligência Emocional, cumprindo assim o primeiro pilar do tripé da competência. Partindo disso, a Inteligência Emocional começa a se constituir enquanto competência;
• A habilidade de autocontrole e métodos de gerenciamento das suas emoções podem ser exemplos de aplicação dos conhecimentos da competência de inteligência emocional. Ou seja, aqui podemos notar o segundo pilar do CHA: habilidades.
• Ao realizar esses atos em prol de uma melhor inteligência emocional, demonstrando então o interesse dele e sua atitude em querer fazer, podemos identificar, na personagem Eric, o último pilar da competência: atitude.
A partir disso, podemos analisar que:
• As habilidades são um dos elementos da competência, sendo então a aplicação do conhecimento e não a competência como um todo, visto que essa última também é formada pelos pilares do conhecimento e atitude.
Compreendendo então o que são competências e os três pilares que a compõem, podemos prosseguir para os dois termos que vem ganhando destaque atualmente.
O que são Hard e Soft Skills?
Traduzindo de forma literal, hard e soft skills são termos que significam respectivamente habilidades difíceis e simples. No contexto de trabalho relacionado às competências e habilidades, esses termos são referentes, respectivamente, às competências técnicas e comportamentais.
Hard skills são um conjunto de aptidões e capacitações técnicas que um indivíduo possui para desenvolver uma certa tarefa, sendo possível comprovar por meio de diplomas, cursos e testes, por exemplo. Dominar vários idiomas, ter capacidade de realizar uma cirurgia ou operar máquinas, são alguns exemplos de hard skills. Resumidamente esse termo se refere a técnicas específicas, podendo ser demonstrado por via de aspectos físicos e tangíveis.
Já as Soft skills são qualidades pessoais e competências comportamentais. São habilidades com viés comportamental do indivíduo que podem ser desenvolvidas. Normalmente essas aptidões também são consideradas como traços que caracterizam o indivíduo, revelando assim habilidades e conhecimentos que podem ser aplicados em contextos mais gerais e não somente em situações específicas como as hard skills. Alguns exemplos de soft skills são: liderança, comunicação, inteligência emocional, criatividade, empatia, dentre outras.
É possível observar que soft e hard skills são diferentes entre si, contudo faz-se extremamente necessário que um profissional equilibre ambas. Imagine os seguintes cenários:
1. Um profissional possui um bom domínio técnico de determinada atividade, mas, em contrapartida, conviver com ele é extremamente difícil, pois não possui um bom relacionamento interpessoal.
2. Da mesma forma, pode haver um profissional extremamente carismático, mas que deixa a desejar no que tange aos domínios específicos da sua área.
Ambos os casos impactam diretamente na organização.
Agora que você compreende o que são competências, reflita: atualmente você faz a gestão da sua carreira por meio das competências?
Entendendo a diferença entre hard e soft skills, é possível perceber que desenvolver ambas impacta positivamente no profissional e organização, visto que estão relacionadas à profissionalização tanto da carreira quanto do negócio:
• Quais soft skills te fortalecem como profissional?
• Quais hard skills são importantes para o cargo que você ocupa?
Referências:
BRANDÃO, H. P. Aprendizagem, contexto, competência e desempenho: um estudo multinível. 363 f., 2009. Tese (Doutorado em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações). Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília-DF, 2009.
CANNING, Roy. The quest for competence. Industrial and commercial Training, 1990.
FLEURY, Maria Tereza Leme; FLEURY, Afonso. Construindo o conceito de competência. Revista de administração contemporânea, v. 5, p. 183-196, 2001.
Conhecimentos, habilidades atitudes: o CHA. Gen. Negócios & Gestão, 2019. Disponível em: <https://gennegociosegestao.com.br/conhecimentos-habilidades-atitudes-cha/>
TRAVASSOS, Vasco Daniel Cordeiro. A importância das soft skills nas competências profissionais. 2019. Tese de Doutorado.